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Ênio César de Moraes é coordenador do Ensino Médio no Colégio Presbiteriano Mackenzie de Brasília
A mudança tem como objetivos garantir a oferta de educação de qualidade a todos os jovens brasileiros e de aproximar as escolas à realidade dos estudantes de hoje, considerando as novas demandas e complexidades do mundo do trabalho e da vida em sociedade. As novidades afetaram também a oferta de componentes curriculares como Arte, Educação Física, Filosofia, Sociologia, que não necessariamente figurariam nos três anos da etapa, e Espanhol, que passou a ser oferecido opcionalmente com preferência sobre outras línguas. Cabe ressaltar que tais alterações ocasionaram mudanças substantivas nas novas matrizes curriculares, visto que a carga horária de determinados componentes curriculares foi reduzida a um terço, em alguns casos, logo os objetos de conhecimento tiveram de ser redimensionados. Além disso, foram criados itinerários formativos voltados à dinamização do processo de ensino-aprendizagem, com projetos preferencialmente interdisciplinares alicerçados nos eixos estruturantes: processos criativos; mediação e intervenção sociocultural; iniciação científica; e empreendedorismo.
Um aspecto importante a ser enfatizado, em relação a essa parte, foi a liberdade trazida por esse novo desenho, a qual propiciou altos voos na criação de percursos pelo país afora. Nesse cenário, a proposta era de que houvesse um novo Enem, a ser implantado em 2024, o qual desse conta de conciliar tudo isso. Ocorre que a previsão não se concretizou, dadas a suspensão da implantação e as modificações do NEM. E agora? Como ficam os estudantes que se prepararam para um novo que não veio? Em relação ao exame especificamente, a maior preocupação dos professores certamente está no esvaziamento de conteúdos que a nova ordem provocará. É óbvio: menor número de aulas, menor volume de assuntos estudados. E, caso as provas deste ano tenham caráter fortemente conteudista, é provável que os candidatos que passaram pelo NEM tenham mais dificuldade. É verdade que, diante dessa possibilidade, algumas escolas buscaram suprir essas lacunas com aulas e atividades extras, porém nem todas tiveram condições de fazê-lo.
Já se a prova trouxer um enfoque maior nas habilidades relacionadas às competências de cada área de conhecimento, pode ser que o impacto seja menor. Aliás, talvez os que passaram pelo NEM levem até alguma vantagem, dado que os itinerários formativos, em tese, seriam montados com a pegada “mão na massa”, ou seja, com foco na aplicabilidade de diversos objetos de conhecimento em perspectiva multi ou interdisciplinar. Independentemente do que venha a ocorrer, abrindo um pouco mais a lente e superando a perspectiva utilitária do conhecimento como mera preparação para provas, estou certo de que, passando ou não no Enem, muitos jovens levarão consigo interessantes experiências que vivenciaram nas trilhas de aprendizagem ou de aprofundamento escolhidas.
Enquanto isso, os educadores que atuam no ensino médio lidam com a sensação permanente de “enxugar gelo” e seguem com o dilema frustrante de querer/buscar inovar, ao reconhecer que o velho modelo não serve — não como algo que deva ser descartado, mas, sim, atualizado —, e, ao mesmo tempo, de responder às exigências impostas por um sistema educacional e por processos seletivos que, invariavelmente — quiçá inevitavelmente —, limitam em grande medida o fazer pedagógico. É o que temos para hoje!
*O conteúdo do artigo assinado não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.